“O bull market chegou, mas por que todos os grupos de conversa estão tão silenciosos?” Foi essa a pergunta que Tongxin Cheese, membro da comunidade, levantou no grupo Opensky.
“Porque todo mundo já saiu do mercado ou está operando vendido”, respondeu Niner, outro participante.
Niner, que já atravessou os últimos ciclos de alta e baixa, acreditava que este bull market seria uma chance de ouro para grandes ganhos. Mas, como admite sem rodeios: “Não consegui lucrar neste ciclo.”
Johnny, trader profissional em situação semelhante, resume: “Não ganhei dinheiro desde que o Trump lançou o Trump.”
Niner e Johnny não são casos isolados. Mark, sócio da Wagmi Capital, comenta: “Neste bull market, 90% dos investidores de varejo não estão conseguindo lucro.”
Embora Niner ainda não tenha registrado ganhos, já mudou sua estratégia. “No último ciclo, só segurei meus ativos. Agora, foco mais em swing trade. Tem muita novidade surgindo, então preciso acompanhar e aprender—e tudo acontece muito mais rápido.”
Niner se adaptou a tempo, mas a maioria dos investidores ainda enfrenta dificuldades para mudar.
“A lógica de investimento se transformou por completo neste ciclo, mas a maioria dos investidores de varejo não percebeu isso”, aponta o influenciador Hippo.
Com a entrada massiva de capital institucional e os principais tokens renovando recordes históricos, o mercado não pertence mais ao varejo. Seja em liquidez, fluxo de capital, tecnologia ou narrativa, o cenário mudou radicalmente. Muitos avaliam que a janela de oportunidades para o investidor comum está se fechando e que esse pode ser o último grande ciclo de alta para o público de varejo.
Diante desse panorama, o TechFlow entrevistou participantes de peso—desde grandes influenciadores, sócios de fundos privados e traders quantitativos até investidores de varejo—para analisar esse ciclo de alta sob múltiplas óticas e traçar um retrato completo do universo cripto atual.
Hippo atua no mercado cripto desde 2016 e conhece o setor como poucos. Durante a entrevista, mostrou clareza e confiança ao definir o ciclo atual: “Agora não é mais um mercado onde tudo dispara junto. Antes, o bull market era coletivo—desta vez, múltiplas políticas, forças de capital e alianças desenharam um rumo totalmente novo.”
Com experiência tanto no setor militar quanto em grandes negócios imobiliários, Hippo construiu um estilo arrojado e, ao mesmo tempo, prudente. Após superar diversos ciclos, reflete: “Sempre questiono o que tem valor real de longo prazo e quais ativos vão sobreviver aos mercados de alta e de baixa.”
Se antes pairavam incertezas, agora Hippo encontrou algumas respostas.
“Depois de muita análise, percebi: este setor é essencialmente uma internet financeira. Empréstimos, negociações, staking—todas as novidades, como ações tokenizadas dos EUA e stablecoins—têm como base a infraestrutura financeira. É por isso que vejo enorme potencial no Ethereum e concentro minha estratégia nele e em DeFi.”
Para Hippo, o ciclo de alta começou com a aprovação do ETF de Bitcoin da BlackRock. Após um ajuste rápido, a segunda fase se iniciou com o “Great Beauty Act” nos EUA, e ele aposta em um pico em novembro.
Mark, no entanto, tem visões diferentes.
Segundo ele, o início do bull market foi a onda das memecoins do ano passado—primeira fase—e o mais recente salto do Ethereum seria o começo do segundo tempo. Mark projeta o pico do mercado para setembro.
“Em 2017, tivemos o superciclo das ICOs e, depois, um boom de altcoins. Só que agora é diferente: os investidores não compram mais baseados em hype—quase todas as narrativas já caíram por terra e sobraram as aplicações financeiras. Por isso, mesmo com a alta do Ethereum, não tivemos recorde de preço como antes, e a maioria das altcoins só subiu em nichos específicos”, explica Mark.
Outro veterano é Chenghua, trader quantitativo responsável por sua própria mesa de arbitragem.
Logo no início do ciclo, Chenghua percebeu a grande virada: enquanto nos ciclos anteriores o varejo ditava as regras e as moedas de pequena capitalização explodiam, agora o dinheiro institucional predomina, especialmente em ativos como o Bitcoin.
Mas, mesmo com experiência, Chenghua acabou saindo antes do tempo. Hoje, detém apenas uma fração de bitcoin, já que vendeu a maior parte quando o preço superou US$ 100 mil. Saiu do Ethereum no fundo e perdeu a recuperação. Até para veteranos, acertar o timing é cada vez mais desafiador para o investidor de varejo.
Johnny, trader full time, destaca: “Há tokens demais, pouca inovação, liquidez fraca e está cada vez mais difícil para o varejo fazer dinheiro.”
No ciclo anterior, Johnny entrou quando Elon Musk alavancou a Dogecoin e surfou a valorização generalizada para obter grandes retornos. “Naquela época, eu nem sabia ler gráfico de velas e mesmo assim ganhei dinheiro”, relembra.
Mas aquela realidade ficou para trás.
“O que dava certo antes, agora não funciona”, admite Johnny. “Antigamente eu só comprava e segurava ou seguia o hype. Hoje preciso desenvolver um método próprio de trading.”
Ainda assim, “as ‘shitcoins’ não entregam mais retorno como antes. O capital e o conhecimento técnico exigidos estão bem mais altos, então está difícil achar trades realmente lucrativos”, avalia.
Por que então está tão difícil ganhar dinheiro neste ciclo? E onde aparecem as oportunidades reais?
Mark aponta dois fatores principais para o fracasso do varejo:
O primeiro é que a maioria ainda não saiu do ciclo anterior—segue presa a altcoins e não migrou para ativos principais.
O segundo é a oscilação incessante de posições. “Perseguir altas e vender no desespero é o maior erro do varejo—o inimigo dos lucros”, destaca Mark.
Para ele, as melhores oportunidades atuais estão nas blue chips e nas memecoins. Entretanto, com a liquidez melhorando, observa uma novidade: “Os tokens recém-listados na Binance estão dobrando ou triplicando, diferente dos tempos em que despencavam pela metade. Por isso, mantenho meu capital principal em Ethereum, mas separo parte pequena para apostar em novos lançamentos e buscar ganhos rápidos.”
“Mas, sinceramente, as oportunidades para o varejo estão cada vez mais escassas.” Mark mantém o pessimismo e prevê que as criptomoedas vão se assemelhar cada vez mais ao mercado de ações americano, com as blue chips concentradas em mãos institucionais. O último reduto do varejo será as memecoins, mas só os mais dedicados e atentos vão lucrar—cerca de 10% dos traders de varejo.
Embora Hippo concorde em parte, acredita que o varejo ainda pode mirar tokens ligados à infraestrutura de trading.
São ativos indispensáveis, que acumulam consenso e potencial de valorização caso sobrevivam ao ciclo.
“O primeiro ajuste para o varejo deve ser na mentalidade—é preciso abandonar o sonho do enriquecimento relâmpago”, aconselha Hippo. “Altcoins com ganhos de 30x ou 100x dificilmente veremos de novo, mas blue chips seguem podendo multiplicar de 3 a 5 vezes por ciclo. Além disso, todo bull market traz memecoins que explodem—quem pegar uma dessas pode garantir grande retorno.”
Várias estratégias populares do ciclo anterior—como operar lançamentos ou mintar inscrições—quase não existem mais neste ciclo.
“Ou você pode tentar o trading quantitativo, como faço. É mais trabalhoso no começo, mas o risco é menor”, observa Chenghua. “Ainda vejo o Bitcoin como uma das oportunidades mais democráticas. Se mantiver disciplina e adotar uma estratégia de preço médio, as chances de ganhar aumentam bastante ao longo do tempo.”
No fim do último ciclo, muitos já previam o fim da era dourada do varejo com a entrada dos institucionais.
Ainda que o público de varejo permaneça presente, o processo de institucionalização acelerou de forma significativa.
Em julho de 2025, ETFs de bitcoin à vista somavam US$ 137,4 bilhões em ativos, com mais de 400 grandes entidades—including fundos de pensão e soberanos—investindo no ETF da BlackRock.
Empresas de capital aberto no mundo inteiro detêm hoje 944 mil BTC, cerca de 4,8% da oferta total, com aumento líquido de 131 mil BTC a cada trimestre.
Plataformas como Coinbase e Binance têm registrado uma forte expansão em produtos de staking líquido de ETH (LSD), enquanto instituições utilizam esses rendimentos como instrumentos de renda fixa.
Todos esses dados indicam: o mercado cripto deixou de ser o terreno livre do varejo.
A mídia chegou a chamar o bitcoin a US$ 120 mil de “um festim de capital sem o varejo”. Nesse dia, “não houve fortunas relâmpago—apenas a BlackRock processando 13 pedidos de ETF por segundo sem alarde.”
É exatamente o que Mark previa. “A era de ouro do lucro para o varejo acabou. Já era possível sentir que o segundo semestre do ano passado era talvez a última janela”, aponta.
Ele já realizou ganhos em algumas posições e migrou parte do portfólio para ações A-shares.
“Mas não vou sair de vez. Acredito que o universo das memecoins sempre trará novas oportunidades”, diz Mark.
Niner é mais otimista e quer continuar no mercado, confiante de que “as melhores oportunidades de grandes lucros começam a voltar para o varejo.”
“Há anos dizem que cada ciclo é o último. Mas, para mim, a fase de crescimento desenfreado passou e agora é que surgem as oportunidades reais”, declara Niner. “Não pretendo sair—quero me tornar uma trader alfa de verdade.”
Hippo compartilha o otimismo e defende que mais estrutura e regulação reduzem riscos e melhoram retornos para o investidor individual.
“Com capital institucional no jogo, seguir nas blue chips ainda pode render bons retornos. O principal é que o mercado está menos volátil e o risco caiu bastante”, ressalta Hippo. “No fundo do ciclo, o bitcoin podia cair 50–70%, mas nas altas pode multiplicar várias vezes. Se o investidor entrar na hora certa e equilibrar expectativas, moedas principais como bitcoin seguem como o caminho mais acessível para lucro do varejo.”
Após nove anos no setor, Hippo compara sua relação com o mercado a “um peixe na água”: “Me movimento com naturalidade, nunca cogitei sair. Acredito que sempre haverá espaço para o investidor de varejo.”
Talvez, para otimistas ou céticos, uma vez mergulhado no mercado cripto é difícil sair. No fim das contas, o essencial não é se o mercado oferece chances, mas a disposição de seguir aprendendo, identificar tendências e agir com disciplina para aproveitar as oportunidades.